Os contínuos escândalos envolvendo diretores da Fifa, CBF, e Concacaf, nos quais milhões de dólares foram desviados do futebol em detrimento do enriquecimento ilícito e do favorecimento espúrio, não podem nos fazer esquecer que os crimes cometidos contra a Petrobras continuam sendo analisados. Isso porque nosso dinheiro saiu dos cofres públicos e pouco se sabe sobre onde ele está e o quanto já foi ou será devolvido, se é que vai.
Essa história do brasileiro ser enganado por não ter memória tem de acabar. Por isso lembramos aqui que muitas empresas envolvidas no esquema do “Petrolão” estão pedindo o perdão do governo federal em troca do pagamento integral das indenizações. No entanto, ainda corre na Justiça o processo que pode condená-las a serem impedidas de fechar qualquer novo negócio com a União. Sendo assim, que tipo de acordo seria esse se os corruptos continuariam ganhando no futuro?
O mesmo acontece com corporações investigadas, como Odebrecht, Camargo Correa e Andrade Gutierrez, que querem participar de leilões de concessões com grupos menores que são braços das mesmas empresas. Nesse caso, até que ponto é possível confiar na intenção desses participantes se eles forem aceitos nas concorrências? Pelas investigações feitas até agora, ficou comprovada a falta de escrúpulos em negociações com o governo federal, como o pagamento de propina e a descontinuidade de obras cujos contratos já haviam sido pagos.
Este mês, a presidente Dilma Rousseff abrirá um novo programa de concessões com leilões em várias áreas de infraestrutura, inclusive rodovias.
Mais uma vez, os campos de expansão que estão entre os mais delicados do País serão colocados em disputa. Porém, como os acordos são comerciais e o governo espera receber obras e investimentos em 30 anos, como no contrato firmado com a EcoRodovias, no Rio de Janeiro, ninguém tem certeza do que será realizado num prazo tão longo. Quem irá fiscalizar? Quem pode comprovar a resistência financeira dessa empresa nesse período, visto as falcatruas e os desmandos frequentes?
Vemos que os escândalos da Fifa e da Petrobras se fundem quando observamos a nebulosidade dos negócios, os acertos fechados sem documentos comprobatórios, os falsos enredos de desenvolvimento dos países envolvidos e de geração de confiança frente ao povo. Enxergamos esses grandes grupos através das campanhas de marketing que mostram belas imagens, gráficos econômicos sempre em alta e um mundo de sonho para grande parte dos brasileiros inebriados pelo futebol ou por uma parcela menor interessada em vencer o concurso da Petrobras.
Já imaginávamos que a Fifa fosse bilionária só pelos gastos do Brasil com tantos estádios inúteis. Só não sabíamos que, além disso, a Federação comprasse jogos, dirigentes e até empresas responsáveis pela venda de ingressos. A mesma coisa aconteceu com a Petrobras, cujos diretores esconderam as negociações ilegais e tantas empresas e pessoas beneficiadas por um verdadeiro “propinoduto” que só pôde ser visto quando um ou alguns dos envolvidos deixaram de receber a parte que lhes cabia dos desvios. Após tanto roubo e desonestidade, esperamos nunca mais esquecer esse duro golpe contra o Brasil que, a duras penas, tentará se reerguer.