O Tatuapé completou, no último dia 5 de setembro, 344 anos de fundação. Trata-se de uma longa trajetória que se iniciou em meados do século 16, quando o desbravador português Brás Cubas instalou um rancho próximo de onde hoje fica o Parque do Piqueri – primeiro registro histórico de civilização na região que hoje chamamos de Tatuapé.
A data em que se comemora a “fundação”, porém, é uma referência ao dia em que o padre Matheus Nunes de Siqueira pediu ao poder municipal a anexação de terras improdutivas entre a sua propriedade e o Rio Tietê. “O pedido foi aceito e, mais tarde, as terras do Padre Matheus viriam a abrigar a Casa do Tatuapé – construída entre 1668 e 1698 – considerada a principal evidência da criação do bairro juntamente com o documento de petição citado”, esclareceu à Gazeta o historiador Pedro Abarca, o mais importante estudioso do bairro. Como a petição tinha data de 5 de setembro de 1668, convencionou-se que esta seria a data oficial do aniversário.
ATENDIMENTO MÉDICO
Inicialmente com características estritamente rurais, com suas chácaras de frutas, flores e hortaliças, ao longo do século 20 o Tatuapé passou por um processo de industrialização que lhe rendeu características que permanecem até hoje.
Nas últimas décadas, com o fechamento ou mudança de inúmeras fábricas para o interior do Estado, os antigos pátios industriais deram lugar às novas moradias. Logo veio a necessidade de um atendimento de saúde eficiente e acessível, que seria atendida em 1969, quando o prefeito Faria Lima inaugurou oficialmente o hospital que viria a levar o nome de Dr. Cármino Caricchio ou, simplesmente, Hospital Municipal do Tatuapé.

A princípio voltado à comunidade local e aos bairros adjacentes, o hospital tornou-se um dos principais centros de atendimento médico na Zona Leste. Pouco antes, em 1959, foi inaugurado, pela iniciativa privada, o hospital e maternidade Cristo Rei, também na Av. Celso Garcia, que foi responsável por milhares de partos até o seu fechamento, em 2001.

Recentemente, vindo atender à crescente demanda por atendimento médico particular de qualidade, foi inaugurada em dezembro de 2007, com a presença do prefeito Gilberto Kassab, a unidade Anália Franco do Hospital São Luiz, na Rua Francisco Marengo. Além de se tornar uma referência em atendimento médico, a presença do hospital alterou a dinâmica da região, possibilitando o surgimento de farmácias, clínicas e outras lojas de suprimentos médicos.
Em termos de saúde, a última novidade no bairro foi a chegada do Hospital e Maternidade Vitória, em 2010, com a inauguração de uma unidade avançada de atendimento na Radial Leste (esquina com a Rua Visconde de Itaboraí), e posteriormente, em 2011, com a abertura do hospital e maternidade na Av. Vereador Abel Ferreira.
TRANSPORTES E COMPRAS
Outros fatores também colaboraram para que milhares de pessoas viessem a adotar o bairro como um lugar para viver. A expansão do Metrô deu ao Tatuapé duas estações (Tatuapé e Carrão), facilitando o dia a dia de quem precisa atravessar a cidade diariamente para trabalhar.

O crescimento populacional, aliado aos avanços na habitação, no transporte e no atendimento médico, permitiu o desenvolvimento de um comércio completo, atendendo à maioria das necessidades dos moradores. Com o comércio de rua consolidado em vias como Tuiuti, Antonio de Barros e Coelho Lisboa, não demoraria para o surgimento dos primeiros shopping centers.
Em 1995, foi inaugurado o primeiro shopping center do bairro, o Shopping Chic (hoje desativado), nas antigas dependências da Tapeçaria Chic, à Rua Antonio de Barros. Dois anos mais tarde, mais duas inaugurações viriam trazer mais opções aos compradores: em abril de 1997 foi inaugurado o Silvio Romero Shopping, à Rua Coelho Lisboa; e em outubro foi entregue à população o Shopping Metrô Tatuapé, anexo à estação de mesmo nome.
A inauguração dos empreendimentos colocou o Tatuapé na rota de compras da capital, trazendo ao bairro lojas de marcas e restaurantes nunca antes vistos na Zona Leste. Porém, a demanda pelos produtos foi tão grande que em pouco tempo já havia a necessidade de outros centros de compras.
Deste modo, já em 1999 o bairro ganhava de presente o Shopping Anália Franco, à Avenida Regente Feijó, que buscava ampliar a variedade de produtos para os moradores do bairro. Em 2007, o bairro veio a ganhar outro empreendimento, o Shopping Boulevard Tatuapé, também anexo à estação do metrô. Em janeiro de 2010, os dois empreendimentos, ligados pela passarela da estação, anunciaram que funcionariam em conjunto formando o Complexo Comercial Tatuapé.
LAZER
Apesar da avantajada estrutura do bairro para o comércio, nem só de compras vive o morador do Tatuapé. Para quem gosta de aproveitar o dia ao ar livre, praticando atividades físicas junto à natureza, o bairro dispõe de amplas áreas verdes.

Uma delas é o famoso Parque do Piqueri, com entrada pela Rua Tuiuti, 515, local que pertencia à antiga chácara do conde Francisco Matarazzo. Com 97 mil metros quadrados de área, o espaço leva o nome da tribo que antes habitava a área localizada na confluência do ribeirão Tatuapé com o Rio Grande, atual Tietê.

A antiga chácara foi declarada de utilidade pública em 1971. A desapropriação de fato só viria acontecer em 1976 e, após dois anos de trabalho da Prefeitura, foi entregue à população o Parque do Piqueri, precisamente no dia 16 de abril de 1978. Com fauna e flora abundantes, lago, trilhas e quadras, o parque é o local preferido pelos moradores da região do Tatuapé conhecida por Parque São Jorge.

Já ao lado do Metrô Carrão, entre as ruas Monte Serrat e Apucarana, o Clube Escola Tatuapé tem estrutura propícia à prática de diversas modalidades esportivas. Com 95 mil m2 de área, o antigo “Centro Educacional e Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes” possui piscinas, campos, ginásio e academia de boxe, na qual o já falecido Mestre Baltazar formou inúmeros campeões.
CERET E ANÁLIA FRANCO
Eternizado entre os moradores como Ceret (sigla para Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador, antigo nome da área), o atual Parque Esportivo do Trabalhador (PET) oferece, em seus 286 mil metros quadrados de área, equipamentos para a prática de futebol, vôlei, basquete, natação, tênis e atletismo, entre outras atividades.
Hoje um excelente local para a contemplação da natureza ou para a simples prática de corrida e caminhada, o Parque Esportivo do Trabalhador foi criado em parte da área remanescente da chamada Mata Paula Souza, antiga reserva da Mata Atlântica que abrangia 750 mil metros quadrados.

A mata permaneceu intacta até outubro de 1960, quando o então governador Adhemar de Barros declarou a área de utilidade pública. Além do parque, inaugurado em 1975, o local deu lugar à região do Tatuapé hoje conhecida como Jardim Anália Franco. Porém, em abril de 1992, a Câmara Municipal aprovou e decretou a Lei nº 11.220, que instituiu a nova divisão geográfica da cidade em distritos. Pouco depois, em maio de 1992, a então prefeita Luiza Erundina promulgou a lei.
Pela nova divisão, o Jardim Anália Franco passou a pertencer aos distritos de Vila Formosa e Água Rasa. Mas, por compartilhar os hábitos e características do Tatuapé, os moradores do bairro ainda consideram o Jardim Anália Franco como pertencente ao seu bairro.
PRAÇAS
As praças do Tatuapé, além de tradicionais pontos de encontro da juventude, proporcionam momentos de lazer para os mais idosos. Neste quesito destaca-se o Largo Nossa Senhora do Bom Parto, que recebe diariamente um grande número de pessoas que se confraternizam jogando dominó ou baralho e colocando a conversa em dia.
Entre as áreas verdes do Tatuapé, uma das que mais se identificam com o bairro e com os moradores é sem dúvidas a Praça Silvio Romero. Ponto de encontro de jovens e adultos, o local virou o símbolo da vida noturna do bairro, onde se reúnem aos fins de semana centenas de pessoas que frequentam os estabelecimentos da região.
CLUBES
Sede das dependências do centenário Sport Club Corinthians Paulista, um dos maiores clubes de futebol do País, o Tatuapé sempre foi ligado ao esporte. Sediado às margens do Tietê, o clube realizava no início do século passado as atividades de remo no próprio rio.
Prova de que o esporte sempre fez parte da vida do Tatuapé são as dezenas de clubes que se formaram no bairro, dedicados ao futebol de salão e também à bocha, muito popular entre os europeus e descendentes moradores do bairro. Dentre eles podemos citar o Clube Azevedo Soares, na Rua Antonio Camardo, o Esporte Clube Sampaio Moreira, na Rua Tijuco Preto, e o 1º de Maio, na Rua Eleonora Cintra.
Mais uma pequena ressalva…… O Hospital e Maternidade Vitória inaugurado em 2011 na Av. Abel Ferreira está situado no bairro da Água Rasa e não Tatuapé. E-mail: historiadaaguarasa@gmail.com
Pena que as fotos antigas estão pequenas demais e não da para ver detalhadamente e saber o ponto especifico de onde fica!
Vocês conhecem este documento?
APM SC 07, fls. 06-06v, de 10.07.1710 – sesmaria no Tatuapé
Carta de Sesmaria no Tatuapé
Carta de sesmaria passada a Tomé Rodrigues da Silva e Maria Leite, moradores na Vila de São Paulo
Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (etc.). Faço saber aos que esta minha carta de sesmaria virem, que havendo requerido ao que por sua petição me enviaram a dizer Tomé Rodrigues da Silva e Maria Leite, moradores nesta Vila de São Paulo, que eles são filhos e netos de povoadores e têm seus filhos e casas de vivenda na paragem chamada Tatuapé e Piqueri, termo desta Vila, sobre o rio Tietê-Anhambi, e com ele suplicante partem as várzeas do dito rio, e algumas pontas, que nunca
fl. 06v
não foram pedidas e nem dadas a nenhuma pessoa, assim de uma banda como da outra do dito rio, as quais começam do porto de João de Souza rio arriba até o porto de Piqueri, sítio da dita Maria Leite, que será meia légua de testada, e outra meia légua de sertão, e como a eles, suplicantes, são necessárias as ditas vargens e pontas para poderem criar suas criações e aproveitarem as madeiras, e figos, e lavrarem as pontas capazes, me pediam fosse servido fazer-lhes mercê da dita terra, livres de pensões, tributos, e somente dízimos a Deus nosso senhor, mandando-se-lhes passe a carta de sesmaria na forma do estilo, com todas as suas entradas e saídas, serventias, logradouros, e alagadiços na ditas se pôs para tudo aproveitarem. E visto que seu requerimento, requereu o provedor da Fazenda Real, a quem se deu vistas, e senão ofereceu dúvida, o hei por bem de fazer mercê aos ditos Tomé Rodrigues da Silva e Maria Leite, em nome de S. Majestade que Deus guarde, de lhes dar de sesmaria a dita meia légua de terra de testada, e outra meia légua de sertão, declaradas na sua petição, visto estarem devolutas, sem prejuízo de terceiros, assim e do mesmo modo que são com todas as suas ditas confrontações, com declaração de que se utilizarão e povoarão as ditas terras dentro de dois anos, e não o fazendo neles se lhes denegará mais tempo, e se julgarão por devolutas na forma da ordem de S. Majestade de 22 de outubro de 1638, e outrossim, serão obrigados os ditos Tomé Rodrigues da Silva e Maria Leite, a mandar confirmar esta carta de data (* na verdade de sesmaria) por S. Majestade que Deus guarde dentro de três anos para o seu Conselho Ultramarino, pelo que mando a todas as justiças desta capitania e seu distrito a que o conhecimento desta minha carta de sesmaria pertencer, deem posse das terras acima referidas aos ditos Tomé Rodrigues da Silva e Maria Leite, na forma do pedido na sua petição e do estilo, e façam cumprir e guardar esta minha carta de sesmaria como nela se contém, que por firmeza de tudo lhe mandei passar, por mim assinada com o sinete das minhas armas, a qual se registrará nos livros da Secretaria deste Governo e aonde mais tocar. Dada nesta Vila de São Paulo aos 10 dias do mês de julho de 1710. O secretário Manuel Pegado a fez.
assinatura autêntica do governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho
Caro Rafael Sampaio.
O Vereador Andrea Matarazzo, articulista semanal (5as. feiras) do Jornal Diário de São Paulo publicou algumas histórinhas do bairro da Mooca e simplesmente “garfou” o tradicional Largo da Concórdia (Estação do Norte de Trem) passando-as do Brás para a Mooca.
E olha que ele foi o Secretário das subprefeituras da Capital.
Má fé, acho que não. É desconhecimento.
Muitos copiadores de historiadores ou melhor pseudo-historiadores sempre indicam o bairro do Jardim Anália Franco como sendo do Tatuapé.
Má fé, acho que não. É desconhecimento total.
Antes do CERET (década de 1970) o Jardim Anália Franco pertencia ao Distrito da Água Rasa.
Na década de 1990 a Prefeita Luiz Erundina no novo plano diretor da capital passou o Jardim Anália Franco que pertencia ao bairro da Água Rasa para a Vila Formosa e subordinado à subprefeitura do Vale do Aricanduva.
Em 1984 o Solar do Regente Feijó (pode ser visitado agendando antecipadamente) e a antiga sede do Lar Anália Franco (constuída na década de 30), conhecido como Asilo e situado na Mata Paula foram tombados pelo Instituto do Patrimônio da Cidade e lá está bem claro: Av. Regente Feijó – bairro da Água Rasa.
Hoje a sede tombada do Lar Anália Franco é o prédio da Unicsul – Universidade Cruzeiro do Sul e o Solar do Regente Feijó fica nos fundos deste prédio.
Quando no início de 1900 a propriedade remanescente dos 75 alqueires que eram do Regente Diogo Antonio Feijó foi comprada pela ABI – Associação Beneficente e Instrutiva presidida por Dona Anália Franco até sua morte em 1919 pelo mal da febre espanhola.
Na década de 30 começou a construção da referida sede e a ABI ocupava as instalações do Solar do Regente Feijó.
Este é um resumo da história do Jardim Anália Franco que poderá ser visto no site: http://www.boleirosdaaguarasa.com – clicando em HISTÓRIA DO BAIRRO e depois COMO TUDO COMEÇOU.
Lá está tudo documentado e não foi tirado de sites e blogs. Foram dois anos de pesquisas em museus, bibliotecas, moradores antigos e tudo documentado.
Espero que os amigos do Tatuapé e Mooca que informam ser o Solar do Regente Feijó originário de seus respectivos bairros vejam e confirmem minhas informações.
Obrigado por divulgar.
Waldevir Bernardo
E-mail: historiadaaguarasa@gmail.com