É quase impossível para Carol Castro não sentir a famosa sensação de déjà vu cada vez que entra em cena para viver a tranquila Clarice, de “Garota do Momento”. Assim como sua personagem na trama de Alessandra Poggi, a atriz de 40 anos também sofreu com um episódio de amnésia pós-traumática, após um acidente de bicicleta, aos 16 anos. “Senti o que é ver tudo branco. Esqueci onde morava, como atravessei a rua. A pessoa responsável pelo acidente não parou para me ajudar. Foi à noite na Lagoa (bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro). Então tive uma experiência com isso”, relembra.
Na história das seis, Clarice é a verdadeira mãe de Beatriz, papel de Duda Santos. Após ficar viúva, passou a trabalhar como lavadeira e a cuidar da filha com a ajuda da sogra, Carmem, de Solange Couto. Exímia desenhista e pintora, sai de sua cidade, Petrópolis, para levar algumas telas ao Rio de Janeiro atrás de uma oportunidade para expor os trabalhos numa galeria de arte. No Rio, conhece o empresário Juliano Alencar, papel de Fabio Assunção, que, encantado com sua beleza, lhe propõe casamento. Pouco depois, Clarice sofre um acidente e perde a memória. Juliano e a mãe, Maristela, vivida por Lilia Cabral, se aproveitam disso para criar um falso passado para ela, lhe entregando outra criança – Bia, de Maisa – para criar como sendo sua filha Beatriz. “Ela perdeu a memória, mas não perdeu a essência. Ela tem um senso de justiça forte e o pai da Beatriz morreu porque foi confundido com um bandido. Clarice tem coragem de bater de frente com a Maristela, é a única que tem essa coragem. É uma personagem que é um sol no início e tentam apagar esse sol. Fico me imaginando quando ela descobrir toda a verdade. Um prato cheio para qualquer atriz”, valoriza.
P – Inicialmente, depois da recusa de Grazzi Massafera, você foi chamada para viver a Clarice. Como esse convite chegou até você?
R – Quando me chamaram, eu sabia praticamente nada da personagem. Mas, conforme fui lendo a novela, fui me apaixonando pela Clarice rapidamente. Uma mulher que tem a perda da memória e tem seu passado mudado e apagado. Ela está presa em uma realidade que não é dela, mas ela nem sabe disso. Fui ficando entretida a cada página que avançava.
P – Como assim?
R – Estamos falando de uma mulher que vive uma realidade completamente alterada, né? Ela era uma pintora, lavava roupa para fora, casada com um professor de matemática. E agora? Ela é praticamente uma boneca de luxo. Mas, apesar de tudo isso, ela consegue manter essa essência de mulher à frente do tempo. A Clarice é uma mulher que preza pelo intelecto. Tem um senso de justiça forte. Ela quer fazer algo pela sociedade e ser independente do marido.
P – Como foi seu processo de composição para o papel?
R – Eu sou muito musical. Então, sempre crio playlist para minhas personagens. Claro que a Clarice tem a playlist dela também. O figurino, que é belíssimo, também ajuda muito a entrar nessa década de 1950. É uma época muito rica em vários sentidos.
P – Aos 40 anos, você vive mãe de jovens de pouco mais de 18 anos. Você chegou a estranhar essa escalação?
R – Nada disso chamou a minha atenção. A vaidade e o ego têm de ficar de lado nessas horas. A Clarice é uma personagem com tantas camadas e nuances. Posso mostrar muito da minha potência e do meu trabalho. Além disso, acho que antigamente era muito comum as mulheres serem mães jovens. Não quis levar essa personagem para esse lado do etarismo.
P – A pressão estética e pela juventude ainda é uma realidade muito forte dentro da tevê. Você sentiu alguma mudança de julgamento ao completar 40 anos?
R – Não, de jeito nenhum. Eu fiz 40 anos em um momento muito intenso da minha vida. Perdi meu pai e, ao mesmo tempo, me recuperava de uma lesão no meu joelho. Nem parei para pensar em questão de idade. Sabe o que mais fiquei pensando? Sobre a finitude da vida.
P – Você é adapta dos procedimentos estéticos?
R – Nunca fiz. Acho que sou uma das poucas atrizes da minha geração que nunca fez. Sou muito medrosa. Morro de medo de procedimento estético. Acho que, em algum momento, alguma coisa terá de ser feito. Algo pequeno. Mas, por enquanto, tento não ser refém de comentários sobre a minha aparência. Não vejo nada. Sou original de fábrica (risos).
P – Como tem sido contracenar com a Maisa e a Duda Santos?
R – Incrível. São duas mulheres lindas. Uma honra. O elenco todo é muito maravilhoso. A gente virou uma família mesmo. É um elenco pequeno, mas muito junto e coeso. Todo mundo muito amigável. Gosto quando esses encontros acontecem.
“Garota do Momento” – Globo – Segunda a sábado, às 18h30.
Laboratório em casa
Carol Castro tem uma atenção aguçada. A atriz de “Garota do Momento” usa suas observações e vivências para criar e compor suas personagens diante do vídeo. “Hoje sou mãe, né? Fui mãe depois dos 30 anos. Isso já é muito diferente. A maternidade traz tanta coisa. Interpretar uma mãe é um prato cheio”, ressalta.
Todo esse senso de observação Carol herdou do pai, o ator e diretor de teatro Lucca de Castro, que faleceu em dezembro de 2023. “Meu pai sempre me falou da observação. Ator é uma profissão que está observando o tempo inteiro. O trabalho não para. Sempre podemos usar uma experiência em algum lugar”, aponta.
Primeiros sinais
Em casa, Carol Castro tem um público bastante específico. Pela primeira, a filha Nina, de 7 anos, está acompanhando o trabalho da mãe na televisão. A atriz, inclusive, revela que a menina tem avisado que seguirá a carreira de atriz quando crescer. “Acho que é a primeira vez que entrou em um set. ela quis que quer ser atriz. Antes falava que seria maquiadora. Tudo tem seu tempo. Eu não forço nada”, afirma.
Instantâneas
# Carol Castro também gravou a série “Jogo Cruzado”, original Disney+, que ainda não tem data de lançamento prevista.
# Ainda criança, Carol Castro chegou a morar em Natal.
# A atriz estreou na tevê em “Mulheres Apaixonadas”, de 2003.
# Ainda este ano, Carol estreia o filme “Uma Babá Gloriosa”.
