A grande região que fica circunscrita entre os ribeirões Tatuapé, Aricanduva e Rio Tietê, aprofundando-se em direção sudeste até as cercanias do que hoje é o bairro de São Mateus, desde remotos tempos foi conhecida pelo nome genérico de Tatuapé.
Devido a vastidão da área abrangida, o desenvolvimento das diversas partes que a constituem deu-se de maneira diferenciada e em épocas distintas. O núcleo inicial foi formado, não sabe-se por mero acaso ou por razões bem definidas, junto à confluência do Rio Tietê e do ribeirão que deu nome ao bairro. Naquele ponto, próximo ao atual Parque do Piqueri, Braz Cubas – o intrépido desbravador português – instalou sua incipiente fazenda, na qual, junto com seus homens, deu início ao cultivo de diversas culturas, entre elas o vinhedo, e criação de gado bovino e suíno. Este fato ocorreu em meados do século 16, provavelmente entre 1550 e 1560.

É de se supor que o intervalo de tempo citado esteja certo, visto que, das terras de Braz Cubas saíram víveres para alimentar os colonos e jesuítas defensores do núcleo de Piratininga por ocasião da revolta dos indígenas. Desde esse insólito acontecimento, talvez excessivamente prematuro, a região entrou numa espécie de estado letárgico. Só aproximadamente um século depois, já em 1655, foi sacudida por nova onda de progresso, quando se deu a compra daquelas mesmas terras pelo empreendedor padre Mateus Nunes de Siqueira. Este homem, não satisfeito com o empuxo dado à fazenda, ainda solicitou mais terras para agregar à sua propriedade. O capitão-mor Agostinho de Figueiredo – autoridade local de então – em boa hora deferiu seu pedido.
CERTIDÃO DE NASCIMENTO
O documento que expõe este fato, de fundamental importância para a história do Tatuapé, foi lavrado pelo Cartório da Tesouraria da Fazenda de São Paulo, Livro 11 de Sesmarias Antigas, em 5 de setembro de 1668. É a partir desse ano que se estabeleceu a data de aniversário do bairro. A Casa do Tatuapé, ou Museu do Tatuapé, segundo se supõe, deve ter sido construída pelo extraordinário padre. Mais ou menos pela mesma época, o herdeiro de Francisco Velho – outro grande desbravador – conseguia confirmação de posse das terras do Sítio Capão Grande, no alto Tatuapé.
Mais dois séculos passariam, para só então criarem-se as mínimas condições de um efetivo e irreversível progresso. Como não poderia deixar de ser, este ocorreu justamente nos baixos do Tatuapé, nas proximidades do local onde outrora Braz Cubas e o padre Mateus Nunes haviam lançado as primeiras sementes. Já no ano de 1864 é construída a Estrada da Penha. Esse nome substituía os antigos: Rua do Braz e Avenida Independência. Poucos anos depois, precisamente em 1875, é inaugurado o trecho da Estrada de Ferro do Norte, que mais tarde viria a chamar-se Central do Brasil, ligando o bairro do Brás a Mogi das Cruzes.

Alguns importantes fatores foram responsáveis pelo progresso da região. O primeiro era representado pela Estrada da Penha, que passava pela parte baixa do bairro, caminho obrigatório para quem quisesse se dirigir do centro de São Paulo – Sé e Pátio do Colégio – à Capital do País: Rio de Janeiro. As grandes rodovias nem por sonho passavam pela cabeça das autoridades daquele tempo. O segundo fator recai sobre duas das principais atividades econômicas da região: a fabricação de tijolos e a extração da areia. As duas desenvolvidas ao longo do Rio Tietê. Terceiro fator: naqueles tempos de transportes precários – carroças tracionadas por bois ou muares -, o Rio Tietê oferecia excelente escoadouro para as mercadorias produzidas no bairro. Nada mais lógico, portanto, que a região do Piqueri partisse à frente das outras.