Assim que o ex-pugilista Nilson Garrido recebeu a equipe de reportagem da Gazeta no seu projeto de academia, localizado debaixo do Viaduto Alcântara Machado, na Mooca, ele automaticamente voltou no tempo. “Lembrei quando eu ia batendo de porta em porta para divulgar o meu filho no boxe e também buscar patrocínio. A Gazeta foi uma das primeiras a me atender, isso foi lá nos anos 2000”, relembrou. Passados 14 anos, muita coisa mudou na vida e no projeto de Garrido.
COMEÇO
Garrido tinha apenas 10 anos quando começou a treinar com Erotildes Ferreira do Carmo, conhecido como Baltazar, em uma academia sem água encanada e iluminada por velas onde hoje é a estação Itaquera do Metrô. “Ele trabalhava fazendo calçamentos de ruas e depois ia lá dar aulas de graça para nós. Como material de boxe sempre foi caro, usávamos troncos como sacos de pancada e enrolávamos as mãos com panos, pois não havia dinheiro para comprarmos luvas”, recorda-se. E é com o mesmo sistema de porta aberta a todos, que Garrido mantém hoje seu trabalho debaixo de dois viadutos em São Paulo.
CONTINUAÇÃO
Quando o mestre Baltazar faleceu, aos 78 anos, em 2009, Garrido se deu conta que seu trabalho não havia morrido. “Hoje eu sou o próprio Baltazar. Isso aqui é uma continuação, é um trabalho que eu quero seguir. É a minha missão de vida”, disse.
PROJETO
Em 2004, Nilson Garrido voltava do emprego como segurança em um prédio do centro quando encontrou um menino de 9 anos caído e machucado no Vale do Anhangabaú. Morador de rua, o menor era usuário de cola. No caminho para o hospital, Garrido contou a ele sua trajetória no boxe, que incluiu a participação em vários torneios amadores na capital entre 1988 e 1996. Combinaram um encontro na manhã seguinte, sob o Viaduto do Chá, para treinar os movimentos básicos do esporte.
O tal garoto apareceu acompanhado de oito amigos e, até o fim do dia, outros 40 aprendizes haviam se juntado ao grupo. Apenas no primeiro mês, a academia improvisada atraiu cerca de 750 pessoas, entre desabrigados, dependentes químicos e menores abandonados.
A movimentação chamou a atenção da Prefeitura, que em 2006 cedeu o vão do Viaduto do Café, no Bixiga. O espaço, antes tomado por lixo, ganhou uma limpeza. Geladeiras quebradas, pneus e computadores velhos foram improvisados como sacos de pancada e equipamentos de musculação. Com a ajuda voluntária da enfermeira Corine Batista, nascia ali o projeto Cora-Garrido.



Em 10 anos, aproximadamente 70 mil pessoas participaram das aulas, que hoje são dadas nos viadutos do Glicério, no centro, e Alcântara Machado, na Mooca, onde Garrido mora até hoje, acompanhado de seus fiéis escudeiros vira-latas – incluindo “Soco”, nome dado a um dos cães em referência ao filme “Rocky, um lutador”, que possuía na trama um cão com o mesmo nome.
INSPIRAÇÃO
Quando questionado a respeito dos treinos do filme Rocky Balboa serem bastante semelhantes aos seus, Garrido garante que quem serviu de inspiração foi ele próprio e não o contrário. “Eu comecei a ganhar projeção antes do filme ser lançado. Alguém deve ter visto a minha história e comentado com o Stallone”, disse.
CRESCENDO
Há aproximadamente três meses, a academia está de “cara nova” e vem fazendo sucesso. Após alguns meses de processo de idealização e estruturação do projeto junto com a rede de academias Smart Fit, Garrido conseguiu reformular o local e trazer novidades.
Além dos aparelhos novos e de primeira linha, o projeto ganhou também um ringue e um octógono profissional – local onde são realizadas lutas de MMA.
Com a revitalização do espaço, mais “curiosos” foram atraídos pelo projeto. Segundo Garrido, só no mês de julho, já haviam passado por lá quase 6 mil pessoas – que são convidadas a deixarem seus nomes em um caderno de presenças.
O público agora é bastante diversificado. De acordo com o ex-pugilista, os frequentadores variam entre “desde o cara que está saindo das drogas, até o empresário que estaciona seu Fusion e vem treinar”, revela.
Vale ressaltar que o espaço não cobra mensalidade e é sem restrição de público. “Ajuda quem pode. Peço apenas algum dinheiro para colaboração, mas não é obrigatório”, esclareceu.
CONVITE
Com tanto sucesso e reconhecimento, o ex-pugilista conta que já recebeu convites para expandir o trabalho que vem fazendo, inclusive para outros países. Ele não aceitou. “Eu não quero implantar isso em outros países e depois ouvir que eu ‘não fiz direito em casa’. O projeto em São Paulo ainda tem muito que crescer e melhorar e depois se expandir para todo Brasil. Só depois disso é que eu poderia pensar em algo internacional”, comentou.
ACADEMIA COMUNITÁRIA
Agora Garrido está com um projeto-piloto, intitulado “Academia Comunitária”, que consiste em oferecer um local para treinamento em academias com preços mais acessíveis, por volta de R$ 40,00 a mensalidade.
A primeira unidade localiza-se no extremo leste, no bairro Vila Yolanda 2, em Cidade Tiradentes, próximo a Ferraz de Vasconcelos.
O bairro não foi escolhido por acaso. “Lá estavam ocorrendo muitas mortes devido às drogas, então pensei que seria um bom local para o esporte. O bairro não possui viaduto, foi aí que me veio a ideia de alugar um salão e fazer uma ‘Academia Comunitária’. Dessa maneira as pessoas podem se entreter e sair desse mundo”.
Garrido ainda garantiu que pretende expandir o projeto para mais lugares. “Quero fazer isso crescer. Só de você mudar uma vida, tirar alguém das drogas… É algo totalmente gratificante”, finalizou.
Olá boa tarde… Trabalho na região do Brás e faz alguns meses que comecei a treinar lá fico muito feliz e grato por treinar lá cheguei um dia perguntei quem tomava conta da academia como fazia pra mim… Treinar fiquei sabendo que era Garrido explicou tudo direito vou lá com muita humildade pra fazer meu treino e vim embora quando poder ajudarei lá tem muito aparelhos bons ainda mais grátis
Participei alguns dias do projeto quando estava no começo. Que evolução!! Na época eu estava desempregado, eu era novo, o treino era feito no viaduto da avenida nove de julho, com resto de pneus, pesos improvisados. Foi há uns 10 anos atrás.